terça-feira, 1 de dezembro de 2009

ah, esses dois! R&J ♥


Uma carta - na íntegra, com todos os erros gramaticais - que os dois maiores idiotas do mundo inteiro me mandaram com a intenção de convencer-me á ir ao cinema com eles. Ás vezes paro, penso e me pergunto: O que seria da minha vida sem eles?


"Maáyzokiulssçon você és uma doçura e uma gostosura de menina!

Queremos muito que a senhorita compartilhe a emoção de assistir conosco um grande sucesso do cinema campeão de bilheteria.

E sem a sua presença essa quarta-feira não será tão feliz e armonioza, pois você para a gente é uma base para continuarmos em pé na nossa vida e sem essa base para nos sustentar não seriamos nada.

De 2 grandes amigos que lhe ama muito.

Esperamos sua presença (Y)"
Sim eu os amo. Muito. Muito mesmo.

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

O magrelinho e a grandona

Depois de um dia inteiro de pequenas discussões, desconfianças, ciúmes guardados para si, eu já não agüentava mais a distancia entre nós.

Não era uma distancia de quilômetros, não eram nem metros. Mas eu sentia sua falta. Queria que ele estivesse cada vez mais próximo de mim, e no entanto, parecia que o universo conspirava para que acontecesse exatamente o oposto disso.

Não fazia sentido ficar brava com ele por coisas bobas, como o fato de ele não ter agradecido por eu ter pelo menos tentado passar cola para ele na prova da aula anterior. Bem, digo que tentei, porque a professora me pegou. A sorte foi que eu ainda não havia passado o papel para ele.

Eu também não deveria ficar tão aborrecida por ele ter saído ontem a noite e ter beijado cinco meninas. Bom, se ele queria pegar herpes o problema era dele, e não meu.

E só porque ele mal me cumprimentou direito, eu não deveria ter ficado quase uma aula sem falar com ele.

O fato é que ele sairá da minha vida muito, muito em breve, e não faz sentido perder um segundo que seja ao lado dele, por causa dessas coisas bobas.

Eu não vou saber viver sem ele.

Ele me mostrou um mundo que eu não conhecia, ele me ensinou a lutar. Mas ficar sem ele... Seria impossível lutar contra a dor que cortaria meu peito.

Um amigo como ele... Eu não poderia encontrar nem que vivesse cem mil anos.

Uma menina tagarelava sem parar, ao meu lado, mas eu não dava atenção. Meus olhos estavam nele, no meu amigo distante.

Ele estava perto da porta, conversando com alguém que eu não saberia dizer quem. E eu, sentada á algumas carteiras de distancia.

Ele não era baixo, mas o mundo inteiro já estava acostumado demais com esse julgamento, daria muito trabalho mudar isso agora. Ele era magrinho, e esse era um dos fatores que estavam no ataque quando o assunto era deixá-lo ou não mais baixo.

Eu sim, era alta. Bom, não exatamente, mas assim como ele, o mundo inteiro já estava acostumado com essa idéia.

Senti meu coração sair fora do ritmo e voltar na batida seguinte quando vi que ele deixava a menina com quem conversava e se dirigia para onde eu, e a menina que tagarelava e eu nem sabia quem era, estávamos.

Ele vinha de cabeça baixa, sem encarar ninguém nos olhos, e por algum motivo eu soube que ele se plantaria ao meu lado. Esperei por isso, e foi exatamente o que aconteceu.

Ele não me olhou quando parou ao meu lado. Fitava o chão. Parecia tentar se concentrar na falta de concentração.

Eu olhei seu rosto alguns centímetros mais alto que o meu – já que eu estava sentada, e ele em pé – sem obter nenhum sinal de resposta.

Então, ignorando todos os meus medos, passando um zíper na boca da minha falta de confiança nas pessoas, eu o puxei para mais perto. Isso era totalmente inaceitável, e só traria feridas e arrependimentos no futuro.

Ele, então, me olhou sorrindo. Como se agradecesse por eu ter feito aquilo.

Com o dedo indicador, segui o contorno das veias cheias de suas mãos, e ele acompanhou meu trabalho com os olhos. Quando as veias se esconderam, e eu não podia mais continuar, eu virei meu rosto para encará-lo, e ele me esperava com um sorriso.

Sorri em retribuição, sem coragem para continuar encarando-o.

Então, segui mais um de meus impulsos que não deveriam ser ouvidos, e entrelacei nossos braços, como se fossemos dançar quadrilha.

Ele pareceu gostar disso, pois tive a impressão de vê-lo sorrindo.

Percebi que a menina que tagarelava a pouco ainda estava a nossa frente, e observava tudo com atenção. Não liguei, ele estava ali, comigo, e eu precisava aproveitar este momento antes que ele fosse embora.

Outro daqueles impulsos me dominou e eu não lutei. Os impulsos estavam sendo bons hoje, ele estavam me fazendo feliz.

Pousei minha cabeça em seu ombro quente e me senti totalmente confortável. Era como se estivesse acabando de voltar de uma viagem longa e cansativa, e de certa forma era exatamente isso o que acontecia. Depois de um dia inteiro “longe” dele, era bom estar em casa novamente.

Ele deitou sua cabeça sobre a minha e senti que ele sentia o mesmo. Também estava confortável ali. Encarei a lousa branca a minha frente, me sentindo extremamente bem.

Fiquei ali, sem reação, querendo que o tempo parasse para sempre, até que meus lábios se moveram para atender á um outro impulso.

– Meu magrelinho.

Senti-me bem ao dizer isso. Pude sentir a força da verdade em minhas palavras. Apesar de tudo, ele era meu magrelinho.

Mesmo sem encará-lo, eu quase vi um sorriso tomando conta de seus lábios, e quando ele falou pude sentir que ele havia sido envolvido pela mesma emoção que me tomara quando foi minha vez de falar.

– Minha grandona.

Simplesmente fechei os olhos e sorri.

by máay

domingo, 29 de novembro de 2009

Descobertas e fingimentos

De repente, tudo ficou muito claro.

Não foi exatamente fácil aceitar isso. Entender é fácil, é rápido, é instintivo. Aceitar é difícil e exige lógica. Exige maturidade e no mínimo um sopro de vontade.

E tudo isso pareceu sumir sem deixar rastros, assim que eu percebi que ia precisar de tudo isso.

Tudo parece tão premeditado!

Alguém pensou em tudo isso, algum dia.

Hey cara, que tal um quebra-cabeça com a vida de alguém? E melhor, podemos fazer isso ser doloroso. E nós podemos rir desesperadamente enquanto vemos o sofrimento do escolhido, disse alguém quando teve a brilhante idéia de mexer com minha vida e transformá-la no que ela é hoje. Estou nesse momento imaginando a expressão pintada em seus rostos. Não, provavelmente, o ataque de riso me impediria ter uma visão clara de seu rosto. Se bem, que isso pode até ser considerado sorte, se é que ela algum dia olhou para mim.

Saber quem é o autor dessa vida infernal que eu tenho vivido, seria péssimo considerando meu pavio curto e minha capacidade de fácil explosão. Eu mataria seja lá quem fosse o maldito autor dessa droga do modo mais lento e frio que minha raiva pudesse permitir.

Mas, uma vida infernal não deve ser tão ruim para uma garota-farsa. Porque é isso o que eu sou: uma farsa.

Não há como negar e todas as evidências me apontam como culpada. O júri é exigente, o juiz me olha torto, e meu advogado... Bem, ele não existe. Não tenho direito de defesa.

É uma causa perdida, e eu sei que já fui condenada á pena máxima.

Fingir é uma arte, e exige no mínimo um dom.

Fingir estar bem, fingir ser boa em algo, fingir gostar de alguma coisa para agradar alguém, fingir que entendeu, fingir, fingir, fingir... Tudo isso faz parte da vida. Mas há um momento na vida de todos os portadores desse dom, do dom de fingir, em que o castelo perfeito, com vigas bem feitas, e uma decoração impecável, desmorona. Pois nem o melhor arquiteto do mundo pode mudar o fato do alicerce ser mal estruturado. Ser frágil, ser falso.

Um dia, como um vulcão que desperta, a falsidade é descoberta e nada pode impedir que todo o perfeito castelo desmorone. Um dia, todos os seus sonhos viram uma pilha de escombros.

Um dia, você olha para o céu e não vê nada além de seu cinza escuro particular, que te segue e te impede de ver o sol.

Um dia a falsidade chega a tanto, que seus olhos parecem não enxergar através da mentira. Você se sente fraca, impotente, inútil.

E sem poder desfazer todos os seus erros, você se esconde atrás da falsa mascara de que está tudo bem.

by máay

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Minha inspiração

Seria maravilhoso, neste momento, poder escrever. Libertar toda a angustia presa em meu coração apertado e me sentir mais leve. Mas sou obrigada a suportar toda essa minha inutilidade sem escrever, sem falar. Muda, calada, sem voz, sem vida.

Porque a felicidade não pode nascer em forma de botão? Assim, sempre que precisássemos, teríamos a felicidade desejada. Seria necessário apenas um click.

Talvez esse botão até exista, mas poucos o conheçam. Talvez isso tudo não passe de um delírio de uma garota desesperada para recuperar sua inspiração.

O que eu preciso fazer para conseguir escrever? Será que macumba funcionaria?

Escrever me liberta, e é na escrita que costumo me perder e encontrar, ir ao céu e ao inferno, viver e morrer. É nas palavras que encontro um refugio, um lugar seguro para guardar minha sanidade.

Mas elas fogem de mim. Elas correm como se o vento as levassem. Desaparecem deixando o vazio, o profundo buraco do desanimo. E a cada dia transcorrido é mais difícil viver sem isso.

Pode um ser humano viver sem ar?

Posso eu viver sem escrever?

O desespero toma conta, ao pensar que posso ter perdido o que mais me alegrava na vida. E o desespero é desesperador.

by máay

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Para ele ♥


Postada em uma comunidade chamada "Meu melhor amigo foi embora", esse texto é muito, muito pouco comparado ao que ele merece.
.


aaaaahh , ele não vai pro Japão, nem pra Australia, nem pra Plutão (graças a Deus , se nãao eu morria ) , ele só vai mudar de escola, mas passar um dia longe dele já é demais pra mim.

Eu nunca pensei em ter melhores amigos. Eu sempre imaginei A melhor amiga, mas ele veio pra mostrar que eu era uma idiota.

ohdells, como eu amo ele. Não dá pra viver sem Rafael Bonfim da Silva.

eu já passei por tanta coisa nessa vida (já tentei até me matar , :O), e ele era unica pessoa do meu lado. a unica pessoa que me fazia bem, que me fazia sorrir, a unica pessoa pela qual eu queria continuar tentando.
e hoje... ah, hoje eu to tão feliz. quem me ve hoje, nem IMAGINA o que eu passei a quatro meses atrás. E o culpado por hoje eu estar tão bem? Foi ele, foi ele. Foi ele.

até mesmo quando ele me irrita, eu não consigo deixar de amar olhar pra ele. ée tão bom ter um melhor amigo assim, quem vê pensa até que a gente se conhece a trocentos bilhões de anos, mas na verdade só faz nove meses que ele entrou na minha vida.
Nove meses, como pode, em nove meses alguem ganhar meu coração assim?
eu confio mais nele que na minha mãe. talvez eu até ame ele mais que a minha mãe , :O

eu sóo sei que é impossivel viver sem ele. é impossivel viver sem os coraçõezinhos que ele desenha no meu caderno, sem ouvir ele me chamando de "mayzoca", falando que meu gosto musical é péssimo, ver ele rindo quando eu falo alguma besteira... é impossivel até viver sem ele me chamando de emo :/

como se eu conseguise IMAGINAR, um segundo sem ele.

Já estou vendo como é que vai ser ano que vem. Nada nem ninguem me anima, e isso é fato. É fato concreto que eu preciso dele assim como do oxigenio.

e o ano que vem, 2010... não sei. :/

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Árvores

Ah, se eu te amasse. Ah, se eu não te amasse tanto.

Seria tudo tão mais fácil se as respostas brotassem em árvores.

As árvores cujas flores são vermelhas me dariam a resposta se eu te amo, e as árvores cujo as flores são brancas me responderiam porque te odeio tanto se meu amor é tão intenso.

Mas as árvores também poderiam servir como lar, onde nos abrigaríamos, contemplando o pôr-do-sol. Á você eu pediria um beijo apaixonado, e á você desejaria que me deixasse em paz, que sumisse de uma vez da minha vida e deixasse minha felicidade aqui.

Mas é você quem eu quero. Mas é você que eu amo.

Mas é você que me faz tão bem...

Porque tudo tem que ser tão difícil? Porque meu coração precisa ser quebrado? Dividido? Porque a vida não é fácil?

Se uma parte deste coração quebrado está com você, quero que você o tenha por inteiro. Eu sei que você o merece.

Mas se está com você, prefiro que o arranque de mim completamente e o estilhace. Corte, pise, ateie fogo. Mate-o, mate-me. Mas não continue com essa tortura. Você sabe o que eu sinto, mas não sente o que eu sinto, então pare.

E você... Você sente o que eu quero sentir. Você é o que eu sempre quis, você é a minha felicidade personificada. Mas não te quero. Mas não sei se te quero. Não sei se te quero tanto assim. Não sei se deveria te querer tanto.

Continuo achando que as respostas deveriam brotar de árvores.

Assim, a primavera seria muito mais encantadora do que já é.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

É como se...

É como se eu fosse uma vampira e seu sangue fosse muito mais doce e irresistível para mim do que para qualquer outra.

É como se eu pudesse sentir o fogo queimando em minha garganta e o veneno inundando minha boca.

É como se o seu pescoço quente e macio convidasse meus lábios a tocá-lo.

É como se o desejo de tê-lo fosse maior que a barreira que impede meus braços de envolvê-lo.

É como ter sem poder ter.

É como não ter e, mesmo assim, querer ter.

É como te querer desesperadamente, muito mais que qualquer outra coisa, e saber que nunca terei.

É como não poder nunca querer.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

O seu guri

Texto inspirado na canção "O meu guri" de Chico Buarque

Era pra ser apenas mais uma tarde de trabalho, corrido, suado, quente com a adrenalina correndo louca por minhas veias. Mas ao invés disso foi um dia de trabalho corrido, suado, quente, cheio de adrenalina, com sirenes latejando em meus ouvidos e luzes azuis e vermelhas piscando atrás de mim. Droga, a polícia!

Parecia que eu estava preso em um daqueles sonhos apavorantes em que é preciso correr, e correr, mas você nunca consegue fazer seu corpo se mover com rapidez suficiente. Eles se aproximavam.

Eu era um bom corredor, o melhor do 5.0 quadrilha Five – grupo de amigos do qual eu fazia parte, composto por cinco jovens ladrõezinhos – e brincávamos que eu poderia disputar uma maratona, quebrar todos os recordes mundiais e bater a carteira de todos os telespectadores ao mesmo tempo, mas parecia que nada disso adiantava agora.

Correr como um louco, jogar latas de lixo atrás de mim, empurrar pessoas... Nada. Eles continuavam se aproximando cada vez mais e mais enfurecidos, com mais gritos esganiçados saindo de suas gargantas secas.

Finalmente encontrei uma possível e estreita saída.

A mata escura ao meu lado me convidava a entrar.

Olhei para trás. Três policiais cansados imaginando, sonhando com o momento em que sentariam em suas poltronas macias com um pote cheio de rosquinhas de sabores diversos, agradecendo aos céus por não terem sido escalados para o plantão.

Mas neste momento, eles estavam aqui correndo atrás de um faveladozinho maltrapilho e ladrão, sob o sol de quase quarenta graus da cidade maravilhosa.

Tive vontade de parar de correr, esperar que eles me alcançassem e soltar:

– Ora, porque não voltam para suas casas? Aposto que o ar condicionado de seus dormitórios vai dar uma sensação muito melhor a vocês.

Tudo bem, li, ou melhor, consegui decifrar – após mais de dez minutos – essa frase que estava escrita em um outdoor no centro da cidade. Não me pergunte o que é um dormitório. Provavelmente é alguma coisa de dormir.

Mas, voltando ao presente, os policiais não parariam, não iriam para seus dormitórios, e a mata continuava a me chamar.

Resolvi aceitar seu convite e aumentei significativamente minha velocidade, tentando desviar dos obstáculos naturais.

Meus pés descalços começavam a doer, o que era um mau sinal. Talvez já estivessem até sangrando por causa das pedras e espinhos ocultos na mata. Bem, oculto para meus olhos e não para meus pés.

Olhei novamente para trás, não conseguia mais ver os policiais imersos em devaneios e rosquinhas, mas ainda era possível ouvir seus gritos. Mais um pouquinho e eles não conseguiriam mais me alcançar.

Apertei meu passo, minha respiração falhou um pouco, mas me obriguei a continuar. Faltava pouco, não podia ceder agora.

A cada batida de coração era mais difícil ouvir os policiais; era mais perceptível meu sorriso vitorioso.

Após alguns minutos de corrida, concluí que eles haviam desistido de me encontrar e corrido de encontro á suas rosquinhas e dormitórios.

Um sorriso enorme, maior que qualquer outro, tomou conta de meus lábios juntamente com uma sensação indescritível. Parecia uma mistura de alívio com histeria. Felicidade e aquele nervosismo chato que sentimos antes de subir em um palco.

De qualquer forma, eu não seria pego hoje.

A última frase ecoou em meu cérebro, tomou conta de minha cabeça, percorreu cada célula do meu corpo e me paralisou. Parei. Sentei. Sorri. Que sorte.

A grama não era macia como parecia ser na televisão, mas um colchão king-size não seria tão bom quanto essa grama cheia de espinhos e pequenos bichos se arrastando sob minhas costas se eu não estivesse com esse doce gosto de vitória na boca.

E então deitei na grama nada macia, e totalmente macia, com o maior sorriso vitorioso que eu já vira em meu rosto e os olhos fechados. Comecei a lembrar de como tudo começou. Eu só tinha que pegar a carteira do moço parado em frente à loja de CDs, era tão fácil! Quantas vezes eu já não havia feito isso? Mas o idiota do Luiz, tinha que parar por causa do relógio reluzente. O cara percebeu, gritou, e a polícia veio.

Outro erro. Como não vi a polícia á cinqüenta metros de mim? A culpa é sem duvida das mulheres. A culpa sempre é das mulheres.

Eu estava cego, precisava do dinheiro para encantar Juliana, a menina mais encantadora do morro. A eterna dona do meu coração.

Lembro-me de como a conheci, foi no aniversário de... Mamãe.

A imagem da mulher de aparência sofrida, sempre com um sorriso esperando para tomar conta de seus lábios invadiu todos os espaços de minha mente.

Era uma mulher com um otimismo incrivelmente grande considerando nossa situação. Papai foi morto por uma bala perdida quando eu só tinha três anos, mal me lembro de seu rosto ou sua voz, e desde então mamãe tem cuidado de mim como se cada dia fosse o ultimo que ela me veria. Ela lavava roupas de outras pessoas, mas isso nunca era o suficiente para nos sustentar. E mesmo sabendo disso, do sufoco que ela passa por mim, todos os dias minto para ela dizendo que vou estudar, quando na verdade vou assaltar as pessoas. Pessoas essas que não merecem o mínimo de respeito.

Descriminam e desprezam pessoas apenas por serem negros, ou morarem em favelas. Elas sim é que são desprezíveis! Ridículos riquinhos com mania de superioridade. O que eu faço, é um bem para a sociedade!

Mas isso não diminui o tamanho da minha culpa nem muito menos justifica todas as mentiras que contei a minha mãe. Ela confia em mim, porque faço isso?

Agarrei com força a grama ao lado do meu corpo, enquanto tentava controlar a culpa.

Minha mãe confiava em mim, ela dizia sentir orgulho de quem eu era e estava me tornando. Não era justo com ela e até mesmo comigo mentir tão descaradamente.

Eu me sentia um lixo quando ela começava a contar a história de quando eu nasci. Ela dizia que eu era uma criança boazinha com todos, menos com ela e que era só ela se aproximar que eu me desfazia em berros e lágrimas.

Ela sorria ao lembrar-se da primeira palavra que pronunciei, “papai”, e sua expressão mudava radicalmente ao lembrar-se dele. Então ela voltava a sorrir ao se lembrar de meu primeiro passo, e outros de meus feitos infantis.

Eu não conseguia encará-la nos olhos. Eu via a felicidade misturada a ingenuidade neles e me sentia o pior de todos os Judas.

Apertei mais meus olhos e senti uma lágrima lutando para sair espremida entre minhas pálpebras. Abri os olhos e senti aquela lágrima negra escorrer. Eu não devia chorar, eu não era a vitima da história e sim o vilão.

Eu não deveria estar chorando. Vilões são frios, sem sentimentos, não choram. Os mocinhos são os sofredores da história, e mamãe era a mocinha desta história idiota que sem querer eu havia escrito.

Não consegui imaginar minha mãe sofrendo por mim. Era doloroso demais.

O céu já escurecia, e alguns últimos raios de sol ainda podiam ser vistos. Quanto tempo passei aqui? Não importava mais.

De súbito levantei, ignorando as vertigens que me atingiram no mesmo instante, e bradei aos quatro ventos:

– Mamãe, me perdoe, eu vou mudar!

As lágrimas escorreram mais ferozmente que antes, e eu não lutava contra elas. Elas não eram a pior coisa agora. A culpa e a vontade de mudar eram muito mais fortes.

E então, eu ouvi um grito masculino a poucos metros de mim.

– Ei, moleque! – Reconheci a voz, eu já havia ouvido-a hoje. Era a voz de... De um policial!

– Ah não! – Suspirei com a voz cortada pelas lágrimas.

Pensei em correr, pensei em voar, estalar os dedos e sumir, pensei em mamãe. Não deu tempo de muita coisa – uma ultima lágrima fria escorreu e então o policial me alcançou.

– Marginalzinho desgraçado, sua mãe não te deu educação? – Disse apertando meu braço com uma força exagerada.

“Sim, ela me deu a melhor educação que eu poderia receber, mas fui ingrato demais para perceber isso, e agora é tarde”, pensei.

Sim, agora é realmente muito tarde.

– Vamos miniatura de malandro, que de agora em diante você não apronta mais! – Senti a felicidade estalar em sua voz enquanto me puxava pelo braço provocando uma leve dor. Uma dor que não chegava aos pés da que eu sentia por dentro.

Coloquei a mão livre no bolso esquerdo de minha calça e retirei a carteira do moço que eu havia roubado em frente à loja de CDs. Com tristeza a deixei cair no chão.

– Me desculpe mamãe, eu te amo mais que tudo na vida.

sábado, 23 de maio de 2009

Atravessando a rua...


Por sua expressão, já estava ali, esperando que os insistentes carros dessem uma brecha para que ela pudesse atravessar a rua, a mais de vinte minutos.

Seus olhos irritados e entediados percorriam toda a extensão da rua de um modo que, toda a humanidade deveria agradecer por ela não ter o poder de soltar raios lasers pelos olhos.

Atrás dela, os carros vinham furiosos e passavam a poucos centímetros de seu corpo, jogando o vento gelado em seu rosto e fazendo-a fechar os olhos, apenas para que o ódio não transbordasse por eles.

Não era certo que ela ficasse ali, esperando tanto tempo para atravessar a ultima rua que ela precisava para terminar o trajeto e chegar a sua casa. Será que nenhum motorista percebia que ela já estava furiosa?

Abriu-se um pequeno espaço entre alguns carros que passavam e ela pôs-se a andar, colocou um pé fora da calçada e esperou que o primeiro carro passasse, e que o espaço de tempo aberto entre ele e o próximo carro a alcançasse.

Mas o segundo carro acelerou depressa de mais na curva e quase colou na traseira do primeiro, e a menina rapidamente voltou seu pé a calçada furiosa.

Vinham muito mais carros do lado esquerdo, que do direito da rua, e o motivo disso era óbvio: Era o horário de entrada das escolas noturnas, e a faculdade mais conceituada da cidade ficava á poucos quilômetros de lá, no sentido que os carros mais iam.

Ela olhava fixamente para onde os carros vinham com um ódio incomum, com as mãos na cintura, batendo seus pés impacientemente, bufando sem parar. Era totalmente perceptível o cansaço em seus atos, depois de um dia exaustivo.

De repente, sem nenhum aviso prévio, ela parou com a seqüência de impaciência.

Deixou os braços caírem ao lado de seu corpo e pareceu decidir alguma coisa extrema.

Seus pés saíram da calçada em um salto decidido, e em um átimo ela estava correndo desesperada, sem nem ao menos esperar os carros passarem, olhando para o lado esquerdo da rua.

A rua, com dez metros de extensão, pareceu tão enormemente gigante naquela hora, que parecia que a menina nunca chegaria até o outro lado.

Mas ela chegou.

Não exatamente inteira, mas ela conseguiu chegar.

Seus olhos sempre presos no lado esquerdo da rua, não avistaram o poste com um enorme cartaz a sua frente, mas todo o seu corpo o sentiu.

Seu corpo frágil bateu com uma força extremamente grande contra o poste, e ela caiu batendo a cabeça contra uma pedra intrometida no meio do asfalto, fazendo o sangue quente, vermelho, se esparramar pela rua.

A morte, facilmente contornada.

A amnésia, inevitável.

terça-feira, 19 de maio de 2009

Tortura

Cada lágrima derramada por quem está ao meu lado, me fere profundamente.

Cada lágrima derramada por quem eu amo, por minha causa, me mata lentamente.

Cada lagrima, cada movimento magoado, cada respiração ofegante cortada por lágrimas que mais parecem laminas, cada batimento de um coração magoado, me perfura. Me mata.

O ódio me envolve tão facilmente.

O ódio por mim, talvez eu deva enfatizar.

A culpa me domina. A tristeza me derruba. A dor me enfraquece.

Não tem volta... Tudo é um circulo. Um circulo de dor e culpa.

Um circulo sem fim, feito apenas para me torturar.