terça-feira, 21 de setembro de 2010

Dona Maria que gostava de pitangas, subiu no pé de manga pra pegar maracujá.

E chega o momento em que eu vos explico essa frase. Eu sei, muitos já tentaram e se descabelaram tentando explicar tal frase tão instigante, mas é chegado o momento em que eu desvendo esse mistério e mostro a face da verdade.

Tudo aconteceu por conta de dois assassinatos.

João, motorista de Dona Mariquinha era um homem muito bom e generoso, até que sofreu um acidente de transito. Depois de ter ficado com uma cicatriz horrível no lábio superior ele perdera o sorriso e daquele dia em diante era rancoroso e sempre maltratava sua mulher, Joana, empregada e melhor amiga de Dona Mariquinha. Melhor amiga, até Dona Mariquinha viajar para Santo Antônio do Piocó á trabalho e sozinha, quando Joana fez algo terrível e traiu a confiança de todos: engraxou os sapatos italianos de Seu José, marido de dona Mariquinha, com pixe de asfalto usado, pois estava com raiva de seu marido João, que não sorria mais.

Quando José percebeu o que havia acontecido se trancou em seu quarto e se desfez em lágrimas. Ligou para Mariquinha que voltou imediatamente, porém não despediu Joana e João em consideração á todos os anos de amizade que tiveram.

No entanto, Dona Mariquinha voltou viciada em pitanga. Quilos e quilos de pitanga eram comprados todos os dias para saciar os desejos de Dona Mariquinha, que inclusiva mandou que plantassem um pé de manga e outro de pitanga no jardim de sua casa de Nova York e se mudou para lá com João, Joana, José e Jacinto, seu poodle de estimação.

Longe do Brasil, Dona Mariquinha começou a perder a sanidade e certo dia, sentindo saudades de sua terra natal, mandou que Joana comprasse mangas, ou como estava nos states, mango, mesmo tendo um pé de mangas em sua casa.

Joana obedeceu a ordem de sua patroa e foi imediatamente comprar mangas acompanhada de João e Jacinto. No mercado encontrou também maracujá, sua fruta favorita e decidiu levar apenas sete quilos. Voltou para casa feliz da vida, mas encontrou dona Mariquinha chorando rios porque seu pé de pitanga não havia dado limão naquela estação. Joana, então, quis ajudar a velha amiga, mas ela já havia enlouquecido de saudades de seu país.

No dia seguinte, João acordou com os loucos latidos de Jacinto e foi ver o que havia acontecido. Era Dona Mariquinha trepada no pé de pitanga, chorando e se descabelando porque queria limões.

João tentou ajudar a patroa dizendo-lhe que havia comprado as mangas que ela tanto queria no dia anterior e então dona Mariquinha se calou. Desceu sombriamente da árvore, entrou na casa, pegou algumas mangas e subiu novamente no pé de manga. Ficou ali, sobre o pé de pitanga, mais algumas horas olhando para suas mangas e pedindo limões aos céus até que se cansou dos constantes e insistentes latidos de Jacinto, e atirou uma manga no pequeno cachorro, matando-o.

José, que á tudo assistia de longe, saiu de casa gritando por seu amado Jacinto e atirou a mesma manga em Dona Mariquinha, que num reflexo pegou-a e a atirou em José, matando-o também.

Então ela desceu e deixou o resto das mangas na árvore. Entrou em casa e encontrou os maracujás, pegou alguns deles e malignamente subiu no pé de manga para apreciar os dois assassinatos que havia cometido.

E ali ficou para sempre, dando origem á lendária frase que originalmente era “Dona Maria que gostava de pitanga, subiu no pé de manga com alguns maracujás” e mais tarde tornou-se “Dona Maria que gostava de pitanga e que subiu no pé de manga pra pegar maracujás”.

Assim Dona Mariquinha – nome completo: Maria Mariquinha Silva e Sousa – entrou para a história com o massacre das pitangas, mangas e maracujás.


Final alternativo:

Então ela desceu e deixou o resto das mangas na árvore. Entrou em casa e encontrou os maracujás, pegou alguns deles e malignamente subiu no pé de manga para apreciar os dois assassinatos que havia cometido.

E ali ficou para sempre, petrificando com o tempo e tornando-se uma estátua símbolo do poder das pitangas, das mangas e dos maracujás.

Trezentos e setenta anos depois, uma faxineira chamada Maria que era devota de Santa Mariquinha – como ficou conhecida – atreveu-se a subir no sagrado pé de manga para sentir-se mais próxima de sua santa. Lá, ela encontrou os maracujás cobertos de ouro.

E isso originou a lendária frase “Dona Maria que gostava de pitangas, subiu no pé de manga pra pegar maracujás”.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Desgraça

Ela não se sentia exatamente acabada. Ela estava sim, desolada e decepcionada. Sentia-se até mesmo um pouco nauseada, mas definitivamente não estava acabada.

Aprendera a levantar a cabeça e seguir em frente, aprendera a sorrir quando a vida lhe inspira lágrimas, gritos e alguns fios de cabelo arrancados. Mas é claro que apesar de estar o máximo controlada possível, apesar de estar tentando e tentando fortemente, dentro dela havia uma dorzinha irritante que pulsava como um segundo coração. Dentro dela, o desejo de se descabelar ainda ardia: aquilo não era real. Não podia ter acontecido.

Olhou em volta, percebeu que algumas pessoas aleatórias e interessadas demais a olhavam. Seus pais, sua irmã - idiota - mais velha e seu primo, o autor de tudo aquilo. Ele a fitava com uma expressão um tanto maligna e ao mesmo tempo um tanto culpada. Desviava seu olhar para o chão de vez em quando, mas logo voltava a enfiar aqueles olhos malignamente culpados nos seus.

Quis sair correndo e cravar suas unhas no pescoço dele, mas naquele momento olhou para o chão e então percebeu que não tinha mais importância. Estava ali, caído e estirado no chão enquanto todos esperavam que ela tivesse alguma reação.

Ajoelhou-se. Sentia a náusea da tristeza invadindo-a. Sentiu as lagrimas vindo e tentou contê-las, mas só tentou. Seu vestido branco com babados rosa bebê agora tocava o chão e criava manchas cor de chão-pisado e lágrimas.

Era a reação natural, era necessário.

Afinal não é sempre que uma menina de seis anos ganha o primeiro pedaço do bolo de aniversário do vizinho dois anos mais velho.