sábado, 23 de maio de 2009

Atravessando a rua...


Por sua expressão, já estava ali, esperando que os insistentes carros dessem uma brecha para que ela pudesse atravessar a rua, a mais de vinte minutos.

Seus olhos irritados e entediados percorriam toda a extensão da rua de um modo que, toda a humanidade deveria agradecer por ela não ter o poder de soltar raios lasers pelos olhos.

Atrás dela, os carros vinham furiosos e passavam a poucos centímetros de seu corpo, jogando o vento gelado em seu rosto e fazendo-a fechar os olhos, apenas para que o ódio não transbordasse por eles.

Não era certo que ela ficasse ali, esperando tanto tempo para atravessar a ultima rua que ela precisava para terminar o trajeto e chegar a sua casa. Será que nenhum motorista percebia que ela já estava furiosa?

Abriu-se um pequeno espaço entre alguns carros que passavam e ela pôs-se a andar, colocou um pé fora da calçada e esperou que o primeiro carro passasse, e que o espaço de tempo aberto entre ele e o próximo carro a alcançasse.

Mas o segundo carro acelerou depressa de mais na curva e quase colou na traseira do primeiro, e a menina rapidamente voltou seu pé a calçada furiosa.

Vinham muito mais carros do lado esquerdo, que do direito da rua, e o motivo disso era óbvio: Era o horário de entrada das escolas noturnas, e a faculdade mais conceituada da cidade ficava á poucos quilômetros de lá, no sentido que os carros mais iam.

Ela olhava fixamente para onde os carros vinham com um ódio incomum, com as mãos na cintura, batendo seus pés impacientemente, bufando sem parar. Era totalmente perceptível o cansaço em seus atos, depois de um dia exaustivo.

De repente, sem nenhum aviso prévio, ela parou com a seqüência de impaciência.

Deixou os braços caírem ao lado de seu corpo e pareceu decidir alguma coisa extrema.

Seus pés saíram da calçada em um salto decidido, e em um átimo ela estava correndo desesperada, sem nem ao menos esperar os carros passarem, olhando para o lado esquerdo da rua.

A rua, com dez metros de extensão, pareceu tão enormemente gigante naquela hora, que parecia que a menina nunca chegaria até o outro lado.

Mas ela chegou.

Não exatamente inteira, mas ela conseguiu chegar.

Seus olhos sempre presos no lado esquerdo da rua, não avistaram o poste com um enorme cartaz a sua frente, mas todo o seu corpo o sentiu.

Seu corpo frágil bateu com uma força extremamente grande contra o poste, e ela caiu batendo a cabeça contra uma pedra intrometida no meio do asfalto, fazendo o sangue quente, vermelho, se esparramar pela rua.

A morte, facilmente contornada.

A amnésia, inevitável.

terça-feira, 19 de maio de 2009

Tortura

Cada lágrima derramada por quem está ao meu lado, me fere profundamente.

Cada lágrima derramada por quem eu amo, por minha causa, me mata lentamente.

Cada lagrima, cada movimento magoado, cada respiração ofegante cortada por lágrimas que mais parecem laminas, cada batimento de um coração magoado, me perfura. Me mata.

O ódio me envolve tão facilmente.

O ódio por mim, talvez eu deva enfatizar.

A culpa me domina. A tristeza me derruba. A dor me enfraquece.

Não tem volta... Tudo é um circulo. Um circulo de dor e culpa.

Um circulo sem fim, feito apenas para me torturar.