segunda-feira, 30 de novembro de 2009

O magrelinho e a grandona

Depois de um dia inteiro de pequenas discussões, desconfianças, ciúmes guardados para si, eu já não agüentava mais a distancia entre nós.

Não era uma distancia de quilômetros, não eram nem metros. Mas eu sentia sua falta. Queria que ele estivesse cada vez mais próximo de mim, e no entanto, parecia que o universo conspirava para que acontecesse exatamente o oposto disso.

Não fazia sentido ficar brava com ele por coisas bobas, como o fato de ele não ter agradecido por eu ter pelo menos tentado passar cola para ele na prova da aula anterior. Bem, digo que tentei, porque a professora me pegou. A sorte foi que eu ainda não havia passado o papel para ele.

Eu também não deveria ficar tão aborrecida por ele ter saído ontem a noite e ter beijado cinco meninas. Bom, se ele queria pegar herpes o problema era dele, e não meu.

E só porque ele mal me cumprimentou direito, eu não deveria ter ficado quase uma aula sem falar com ele.

O fato é que ele sairá da minha vida muito, muito em breve, e não faz sentido perder um segundo que seja ao lado dele, por causa dessas coisas bobas.

Eu não vou saber viver sem ele.

Ele me mostrou um mundo que eu não conhecia, ele me ensinou a lutar. Mas ficar sem ele... Seria impossível lutar contra a dor que cortaria meu peito.

Um amigo como ele... Eu não poderia encontrar nem que vivesse cem mil anos.

Uma menina tagarelava sem parar, ao meu lado, mas eu não dava atenção. Meus olhos estavam nele, no meu amigo distante.

Ele estava perto da porta, conversando com alguém que eu não saberia dizer quem. E eu, sentada á algumas carteiras de distancia.

Ele não era baixo, mas o mundo inteiro já estava acostumado demais com esse julgamento, daria muito trabalho mudar isso agora. Ele era magrinho, e esse era um dos fatores que estavam no ataque quando o assunto era deixá-lo ou não mais baixo.

Eu sim, era alta. Bom, não exatamente, mas assim como ele, o mundo inteiro já estava acostumado com essa idéia.

Senti meu coração sair fora do ritmo e voltar na batida seguinte quando vi que ele deixava a menina com quem conversava e se dirigia para onde eu, e a menina que tagarelava e eu nem sabia quem era, estávamos.

Ele vinha de cabeça baixa, sem encarar ninguém nos olhos, e por algum motivo eu soube que ele se plantaria ao meu lado. Esperei por isso, e foi exatamente o que aconteceu.

Ele não me olhou quando parou ao meu lado. Fitava o chão. Parecia tentar se concentrar na falta de concentração.

Eu olhei seu rosto alguns centímetros mais alto que o meu – já que eu estava sentada, e ele em pé – sem obter nenhum sinal de resposta.

Então, ignorando todos os meus medos, passando um zíper na boca da minha falta de confiança nas pessoas, eu o puxei para mais perto. Isso era totalmente inaceitável, e só traria feridas e arrependimentos no futuro.

Ele, então, me olhou sorrindo. Como se agradecesse por eu ter feito aquilo.

Com o dedo indicador, segui o contorno das veias cheias de suas mãos, e ele acompanhou meu trabalho com os olhos. Quando as veias se esconderam, e eu não podia mais continuar, eu virei meu rosto para encará-lo, e ele me esperava com um sorriso.

Sorri em retribuição, sem coragem para continuar encarando-o.

Então, segui mais um de meus impulsos que não deveriam ser ouvidos, e entrelacei nossos braços, como se fossemos dançar quadrilha.

Ele pareceu gostar disso, pois tive a impressão de vê-lo sorrindo.

Percebi que a menina que tagarelava a pouco ainda estava a nossa frente, e observava tudo com atenção. Não liguei, ele estava ali, comigo, e eu precisava aproveitar este momento antes que ele fosse embora.

Outro daqueles impulsos me dominou e eu não lutei. Os impulsos estavam sendo bons hoje, ele estavam me fazendo feliz.

Pousei minha cabeça em seu ombro quente e me senti totalmente confortável. Era como se estivesse acabando de voltar de uma viagem longa e cansativa, e de certa forma era exatamente isso o que acontecia. Depois de um dia inteiro “longe” dele, era bom estar em casa novamente.

Ele deitou sua cabeça sobre a minha e senti que ele sentia o mesmo. Também estava confortável ali. Encarei a lousa branca a minha frente, me sentindo extremamente bem.

Fiquei ali, sem reação, querendo que o tempo parasse para sempre, até que meus lábios se moveram para atender á um outro impulso.

– Meu magrelinho.

Senti-me bem ao dizer isso. Pude sentir a força da verdade em minhas palavras. Apesar de tudo, ele era meu magrelinho.

Mesmo sem encará-lo, eu quase vi um sorriso tomando conta de seus lábios, e quando ele falou pude sentir que ele havia sido envolvido pela mesma emoção que me tomara quando foi minha vez de falar.

– Minha grandona.

Simplesmente fechei os olhos e sorri.

by máay

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