segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Cárcere das almas

Texto inspirado no poema “Cárcere das almas” do poeta simbolista Cruz e Sousa.

Ele poderia levantar-se, sacudir a poeira, beber alguma coisa e começar á sorrir, mas ele parecia morto dentro de sua própria vida miserável, com sentimentos, emoções e reações paralisadas e mofadas. Não, ele não parecia. Ele estava estagnado.

Se existia realmente um inferno ele gostaria de conhecê-lo. O que poderia ser pior que analisar as paredes velhas de um apartamento, cheias de rachaduras e infiltrações, pintadas de um branco que ainda ardia seus olhos? Como poderia existir algo pior que observar as mesmas paredes em estado deplorável de sua alma? Contar cada pingo de água poluída que caia da goteira que ele sentia perfurá-lo por dentro?

Mil quatrocentos e trinta e sete. Pingo. Dor. Escuridão.

Mas ele não estava totalmente solitário. Haviam as perguntas; as insistentes e pontiagudas perguntas. “Porque isso está acontecendo?” e “o que foi que aconteceu comigo?” eram suas melhores amigas – ou pelo menos suas companheiras mais irritantes, apesar de também existirem as famosas “existe alguém comandando tudo isso?” e “se existe, porque prolonga essa situação?”.

No entanto, o estado de dormência por vezes era maior que tudo. A escuridão pesada como nuvens negras esmagava-o e ele nem ao menos tentava lutar, afinal com o peso de mil sois sobre si era impossível enxergar a saída do cárcere onde sua alma se encontrava.

Ele não ia levantar-se, sacudir a poeira, beber alguma coisa e começar á sorrir. Ele estava preso á sua longínqua e infértil vida miserável.

2 comentários:

  1. A maay, como vc escreve bem. Muito bom. Agora vou ter de procurar esse poema para ler... me despertou uma curiosidade, ver você comentando ele de uma forma tão profunda.

    Bjs, psicopata. ;D

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  2. Ah, Lucas obrigada. São comentários como esses, de pessoas como você que me inspiram mais e que me incentivam á continuar.

    Beijos, zsaceziri, e o seu blog continua ótimo, é claro ;D ♥ '

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