segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Desgraça

Ela não se sentia exatamente acabada. Ela estava sim, desolada e decepcionada. Sentia-se até mesmo um pouco nauseada, mas definitivamente não estava acabada.

Aprendera a levantar a cabeça e seguir em frente, aprendera a sorrir quando a vida lhe inspira lágrimas, gritos e alguns fios de cabelo arrancados. Mas é claro que apesar de estar o máximo controlada possível, apesar de estar tentando e tentando fortemente, dentro dela havia uma dorzinha irritante que pulsava como um segundo coração. Dentro dela, o desejo de se descabelar ainda ardia: aquilo não era real. Não podia ter acontecido.

Olhou em volta, percebeu que algumas pessoas aleatórias e interessadas demais a olhavam. Seus pais, sua irmã - idiota - mais velha e seu primo, o autor de tudo aquilo. Ele a fitava com uma expressão um tanto maligna e ao mesmo tempo um tanto culpada. Desviava seu olhar para o chão de vez em quando, mas logo voltava a enfiar aqueles olhos malignamente culpados nos seus.

Quis sair correndo e cravar suas unhas no pescoço dele, mas naquele momento olhou para o chão e então percebeu que não tinha mais importância. Estava ali, caído e estirado no chão enquanto todos esperavam que ela tivesse alguma reação.

Ajoelhou-se. Sentia a náusea da tristeza invadindo-a. Sentiu as lagrimas vindo e tentou contê-las, mas só tentou. Seu vestido branco com babados rosa bebê agora tocava o chão e criava manchas cor de chão-pisado e lágrimas.

Era a reação natural, era necessário.

Afinal não é sempre que uma menina de seis anos ganha o primeiro pedaço do bolo de aniversário do vizinho dois anos mais velho.

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